Foto: Vinicius Becker
Justin Mose Mogire será o representante do país africano na Maratona de Santa Maria

Na pista de atletismo da Brigada Militar, onde no domingo (19) serão dadas a largada e a chegada da Maratona de Santa Maria, o queniano Justin Mose Mogire conhecia pela primeira vez o terreno santa-mariense antes da corrida. Com a timidez natural de quem chega a uma nova cidade e fala pouco da língua local, o atleta de 39 anos conversou com a reportagem do Diário sobre a expectativa e o desejo de vencer a prova dos 42 km no domingo.
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– Quero agradecer muito à organização da Maratona de Santa Maria por me dar a oportunidade de vir competir aqui – disse o queniano, logo após se apresentar.
Mogire vive atualmente em Curitiba (PR), onde treina e compete em provas de longa distância. Apesar de estar no Brasil há cerca de cinco meses, com visto válido até o ano que vem, esta não é a primeira vez do atleta em solo brasileiro. Entre vindas e retornos ao Quênia, Mogire esteve no Brasil em 2023 e 2024.
Esta será, porém, a primeira oportunidade do queniano em Santa Maria. Mas o desejo de competir por aqui ele já nutre há um tempo:
– Como sou atleta, preciso estar atento ao que acontece no mundo das corridas. Lembro que um colega meu do Quênia correu aqui no ano passado, e foi por meio dele que consegui o contato. No ano passado, até queria vir correr a Maratona de Santa Maria, mas descobri muito em cima da hora, então não consegui o convite. Mas desta vez me organizei para garantir minha participação – contou Mogire.
O amigo é simplesmente Jackson Ruri Mayua, compatriota que ficou com o título da segunda edição do Maratona, em 2024. Os dois competiram juntos em outras competições pelo Brasil, como a de Foz do Iguaçu (PR). Até tentaram correr na maratona curitibana, mas esbarraram no limite de estrangeiros. Mesmo assim, possibilidades não faltam para Mogire:
– O Brasil é um país muito grande, com muitas corridas. Se você perde uma, sempre tem outra oportunidade – avaliou.

Esporte nacional
Conhecidos mundialmente pelo desempenho no atletismo, Mogire explica que correr virou paixão nacional dos quenianos de forma natural, desde a infância:
– O que nos diferencia é que começamos a correr e treinar desde muito jovens. Então, quando chegamos à idade adulta, nossos músculos já estão fortes e o corpo preparado. A corrida exige consistência, e isso a gente aprende desde cedo. No Quênia, muitas crianças caminham 2 a 5 quilômetros até a escola, voltam para almoçar em casa e depois retornam correndo. Essa rotina cria uma base física e mental forte – contou.
Por isso, a expectativa é alta e Mogire não se esconde do favoritismo para vencer a Maratona de Santa Maria. Mesmo assim, segundo ele, a disputa entre quenianos e brasileiros é sempre positiva e saudável:
– Correr é como um trabalho. Venho de muito longe e o meu objetivo é correr bem, vencer e ganhar dinheiro, para ajudar minha família e talvez alguns amigos. Mas sinto que quenianos e brasileiros são como irmãos. Os quenianos gostam muito dos jogadores de futebol brasileiros, e os brasileiros admiram muito os atletas quenianos. Já estive em vários lugares do Brasil e as pessoas sempre nos tratam com carinho.

A importância do pelotão de elite
Em entrevista ao Papo D Esporte, o secretário municipal de Esporte e Lazer, Gilvan Ribeiro, destacou a importância da presença de Mogire na prova e a expectativa por uma disputa acirrada com os atletas locais, especialmente com o santa-mariense Gabriel Pozzo, campeão da primeira edição da maratona, em 2023.
– Naturalmente, ele se coloca como um grande favorito. O Justin tem uma marca de 2h22min na maratona, um tempo muito semelhante ao do nosso atleta Gabriel Pozzo. Então, podemos prever uma disputa direta entre o queniano e o santa-mariense pelo pódio – afirmou o secretário.
Segundo Gilvan, Mogire chegou a Santa Maria na quinta-feira (16), está hospedado com apoio da rede hoteleira local, e já está em fase final de preparação. A presença de atletas estrangeiros, avalia ele, reforça a dimensão internacional do evento:
– É algo que dá mais prestígio à maratona. Esses atletas vêm por conta própria, em busca de resultados e índices para outras provas internacionais. Também é um incentivo aos nossos corredores, que passam a competir lado a lado com nomes de destaque.
Adaptação em solo brasileiro

Apesar de o inglês ser ensinado nas escolas quenianas, Mogire conta que sua língua nativa é o kiswahili, variação do suaíli. O idioma é um dos mais falados em todo o continente africano. No Brasil, o atleta queniano conta que o português ainda é uma de suas dificuldades, mas que se esforça para aprender:
– Quando você vive em um lugar onde as pessoas não falam inglês, precisa aprender a língua local. Já sei, por exemplo, dizer “bom dia”. Devagarinho a gente vai aprendendo – contou.
Além do idioma, o clima também é um desafio para Mogire. O frio de Curitiba, confessa, foi uma das maiores dificuldades de sua adaptação. Ainda assim, ele diz que o clima não é obstáculo:
– No Quênia, não faz tanto frio, então sofri um pouco no começo, mas com o tempo me acostumei. Já corri também em lugares muito quentes, como João Pessoa (PB), e foi difícil. Mas, no Quênia, treinamos de manhã, à tarde e à noite, então estou acostumado a qualquer tipo de clima. Correr é muito mais sobre mentalidade. Se eu decidi correr, não importa se está frio, calor ou chovendo, eu corro do mesmo jeito.
A boa relação com os brasileiros também tem seus motivos. Perguntado sobre o que mais gostava do Brasil e dos brasileiros, resumiu:
– O que mais gosto é a união e a fé das pessoas. Muitos acreditam em Deus e procuram fazer o bem. E também adoro o churrasco brasileiro – brincou Mogire, que prometeu experimentar o assado gaúcho caso vença a Maratona no domingo.
Com fé, simplicidade e um sorriso constante, Mogire encerrou a conversa com um convite ao público:
– Gostaria de convidar todos os moradores de Santa Maria a comparecerem em grande número para apoiar a maratona. Correr é amor, correr é vida. Faz bem para o corpo e para a mente. Muitas pessoas sofrem com doenças como pressão alta e diabetes, mas quando você corre, o corpo se fortalece.